quarta-feira, 4 de agosto de 2010

experiência de escrita 4

(continuação do texto publicado aqui)

Não posso sair, não posso. Não posso sair de casa sem ele, mas não o consigo encontrar, no meio desta confusão que se tornou o meu espaço. Recordo, por segundos, o tempo em que nada disto era assim, em que todos os acontecimentos da minha vida eram ordenados e reflectidos, quando nada era deixado ao acaso. Por míseros segundos, fragmentos de como tudo era antigamente, dissipam-se em breves instantes para darem lugar à triste realidade de hoje, à ausência de um fio condutor que me direcciona, neste caminho sem sentido, de múltiplos trilhos que me transportam para um único e errático fim.
Procuro, procuro, no meio do caos desordenado que esta casa se tornou, e, às tantas, encontro o caderno onde registo a minha vida, os meus tormentos, onde desenho percursos possíveis para uma fuga deste labirinto insondável, sufocante, omnipresente. Mas por mais que trace linhas sem paralelo na realidade, delineando um percurso difícil e penoso, pleno de cruzamentos sem intersecções, depois de vaguear por círculos intermináveis e submergir em espirais infindas que me transportam ao abismo, regresso sempre ao mesmo ponto de partida – o da inutilidade da procura, da imensidão que se desbarata na conquista do nada, na vacuidade definida em acidentes de percursos inexistentes.
Tenho de sair daqui, e depressa.
Tranco a porta atrás de mim e deambulo pelas escadas imundas, encardidas de tantos outros a traçarem percursos idênticos, escada acima, escada abaixo, sempre a caminharem para o mesmo triste destino que aqui não se encontra, porque o ar é demasiado opressivo para que o consigamos aprisionar. Haverá alguma coisa na vida que nos pertença de facto…? Não, não é aqui, nesta imundície de almas que se atropelam entre si e que nos incomodam, até termos de dizer - Basta! Larguem-me que eu não vos pertenço!
Tenho de sair daqui!

(continua aqui)

Sem comentários: